Pessoas da NOVAFRICA: Vitor Cavalcante
Temos o prazer de ouvir o testemunho do doutorando da NOVAFRICA e da Nova School of Business and Economics, Vítor Cavalcante, sobre a sua trajetória na economia do desenvolvimento. O seu trabalho abrange vários projetos da NOVAFRICA na Gâmbia, Cabo Verde, Moçambique, Portugal e Guiné-Bissau, explorando temas como migração, finanças e desenvolvimento, através de investigação rigorosa e experiência prática no terreno.
Pode contar-nos um pouco sobre o seu percurso académico — desde a licenciatura até ao doutoramento na Nova SBE? O que o inspirou a seguir um PhD em Economia?
Iniciei os meus estudos no Brasil, onde concluí a licenciatura em Economia no Insper, com um intercâmbio na Universitat Pompeu Fabra, em Barcelona. Esse período deu-me a base analítica e a curiosidade que me impulsionaram para a investigação.
Mais tarde, realizei o Mestrado em Economia na Nova SBE, onde tive o primeiro contacto direto com a economia do desenvolvimento através de projetos da NOVAFRICA na Gâmbia, Cabo Verde, Moçambique, Portugal e Guiné-Bissau. Essas experiências levaram-me desde a supervisão de campo à gestão de projetos e, posteriormente, a funções de co-investigador principal (co-PI). Também me proporcionaram a oportunidade de trabalhar de perto com mentores como os Professores Cátia Batista e Pedro Vicente, cuja orientação moldou a minha abordagem à investigação aplicada.
Colaborei ainda com professores de outras instituições, incluindo o Insper, a Universidade de Bolzano e a Universidade de Milano-Bicocca, onde trabalhei como investigador pré-doutoral. Estas perspetivas diversas confirmaram a minha paixão pela investigação e por uma carreira que combina análise rigorosa com envolvimento direto em contextos globais. Prosseguir um doutoramento em Economia do Desenvolvimento foi, assim, a continuação natural desse percurso.
O que o levou a especializar-se em economia do desenvolvimento e quais são atualmente os temas que mais lhe interessam?
Inicialmente trabalhei no setor financeiro, focado em investigação macroeconómica. Nessa altura, livros como The Elusive Quest for Growth (Easterly), Development as Freedom (Sen) e Poor Economics (Banerjee & Duflo) transformaram completamente a forma como via a economia — ligando-a a questões de desigualdade, pobreza e impacto das políticas públicas.
Essa mudança motivou-me a deixar o emprego e a ingressar no mestrado da Nova SBE, precisamente pela forte aposta da NOVAFRICA na área do desenvolvimento. Desde então, trabalhei em projetos sobre migração, educação, saúde, economia política, agricultura e finanças. Atualmente, o meu doutoramento centra-se em dois temas principais: migração internacional e a interseção entre finanças e desenvolvimento.
Tem participado em trabalho de campo em vários países. Que conselho daria a jovens investigadores que se preparam para a sua primeira experiência de campo?
O trabalho de campo é uma oportunidade para aprender diretamente com o contexto. Uma curta conversa com um parceiro local pode, por vezes, esclarecer mais do que semanas de análise. O meu conselho seria: conecte-se com as pessoas, construa parcerias locais fortes e mantenha-se aberto à aprendizagem.
Ao mesmo tempo, encare o trabalho de campo com profissionalismo. Envolve custos e responsabilidades reais — por isso, objetivos claros, prazos e respeito pelos valores institucionais são fundamentais. O desafio está em equilibrar o que é significativo localmente com o que faz avançar a investigação. O sucesso vem de ser simultaneamente rigoroso e atento às realidades no terreno.
Quais são alguns dos desafios mais comuns enfrentados pelos investigadores no terreno e como os ultrapassa?
Atrasos inesperados, dificuldades logísticas ou problemas na qualidade dos dados são comuns. Diferenças culturais e responsabilidades éticas acrescentam uma camada adicional de complexidade.
As melhores estratégias que encontrei são preparação e flexibilidade: começar com um plano claro, mas adaptar-se quando necessário. Parcerias locais sólidas são inestimáveis para resolver problemas e construir confiança. E, talvez mais importante, manter perspetiva — os desafios no terreno acabam muitas vezes por ser as partes mais enriquecedoras da jornada de investigação.
Pode partilhar uma lição marcante do trabalho de campo que tenha influenciado a sua forma de investigar?
Uma lição essencial foi a importância de construir equipas diversificadas e motivadas, garantindo uma comunicação clara a todos os níveis — desde os investigadores principais até aos inquiridores. Em ensaios controlados aleatórios, em particular, a qualidade dos dados depende tanto do trabalho em equipa e da coordenação como do próprio desenho do estudo.
Essa experiência ensinou-me que o sucesso na investigação em economia do desenvolvimento depende tanto da gestão de pessoas e do alinhamento de incentivos quanto das competências técnicas. É uma lição que vai além da academia: muitos desafios resolvem-se não apenas com boas ideias, mas com boas equipas.
Que conselhos daria a quem está a pensar prosseguir um doutoramento e quer preparar-se academicamente e profissionalmente?
Fazer um doutoramento é uma jornada académica e pessoal que exige curiosidade, disciplina e resiliência. Na minha opinião, é um processo de crescimento contínuo — que combina preparação técnica com aprendizagem prática e reflexão. Deixo algumas recomendações para jovens investigadores:
- Comece com motivação genuína. A curiosidade é o que o vai sustentar perante os desafios de um doutoramento. Construa uma base sólida em economia e métodos quantitativos desde cedo, e envolva-se com a investigação, lendo artigos e explorando a literatura.
- Ganhe experiência prática. Procure oportunidades de assistente de investigação, estágios ou trabalho de campo — e aproveite-as ao máximo. Para além das competências técnicas, como gestão de dados ou programação, estas experiências permitem observar como investigadores seniores pensam, resolvem problemas e tomam decisões. Ajudam ainda a desenvolver competências de trabalho em equipa, gestão de projetos e comunicação, mostrando se o estilo de vida da investigação realmente se adequa a si.
- Fortaleça competências técnicas e interpessoais. Bases sólidas em estatística, econometria, programação e literatura são essenciais. Mas as competências interpessoais também contam — construir relações em contextos diversos, colaborar eficazmente com orientadores e gerir equipas multiculturais no terreno.
- Valorize a mentoria. Quando encontrar professores que investem genuinamente no seu crescimento, aproveite para aprender com o seu raciocínio, abordagem e experiência. Essas lições muitas vezes vão além do que se aprende nas aulas.
- Pense de forma independente. No fim, um doutoramento é sobre se tornar um pensador independente. A preparação técnica é importante, mas também o é a abertura a diferentes ideias, contextos e pessoas.
Por fim, quais são os seus objetivos pessoais e académicos para os próximos anos?
O meu objetivo é contribuir tanto para o conhecimento académico como para o impacto das políticas públicas, com foco em como os instrumentos financeiros e a migração moldam o desenvolvimento. Quero que a minha investigação avance a teoria, mantendo-se enraizada em questões que importam para a vida das pessoas.
Espero também reforçar colaborações com instituições, decisores políticos e outros investigadores — porque o impacto significativo surge, muitas vezes, do esforço coletivo. E, a nível pessoal, quero continuar a aprender com diferentes contextos. O contacto direto com as comunidades lembra-me que a investigação não é apenas sobre dados, mas sobre pessoas. Para mim, o caminho ideal é crescer como académico, mantendo-me ligado ao lado prático do desenvolvimento, onde a investigação rigorosa e a relevância real se encontram.
Conecte-se com o Vítor no LinkedIn
Escrito por: Mercy Uba & Vítor Cavalcante