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Seis meses em Moçambique: Lições do terreno

Há experiências que mudam a forma como vemos o mundo, e o meu tempo em Moçambique, a trabalhar com o NOVAFRICA, foi uma delas. Durante seis meses, tive o privilégio de sair das teorias académicas e entrar nas realidades diárias das pequenas empresas locais – testemunhando em primeira mão as lutas pela sobrevivência, a procura de emprego e a tomada de decisões empresariais num ambiente moldado pela incerteza. Foi uma viagem intensa, cheia de desafios, percepções e momentos que ficarão comigo para toda a vida.

Uma abordagem prática da investigação

Um dos aspectos mais exigentes mas gratificantes do projeto foi a montagem e formação de uma equipa de campo moçambicana. Recrutámos, treinámos e trabalhámos lado a lado com 28 indivíduos incríveis, assegurando não só uma recolha de dados precisa, mas também uma presença contínua no terreno. Desde visitar mercados movimentados até analisar mais de 1800 inquéritos, cada passo do processo exigiu adaptabilidade, paciência e trabalho de equipa.

Rapidamente se tornou claro que a investigação não tem apenas a ver com números – tem a ver com pessoas. Os microempresários que encontrámos não eram apenas pontos de dados; eram indivíduos que tomavam decisões complexas sobre os seus negócios, as suas famílias e o seu futuro. As suas histórias acrescentaram camadas de profundidade à investigação, lembrando-me porque é que a economia do desenvolvimento deve estar enraizada em experiências do mundo real e não apenas em modelos estatísticos.

O poder da colaboração

Nada disto teria sido possível sem uma equipa extraordinária. Um agradecimento especial à Verónica Guerra – este projeto teria sido impossível sem ti. E à Priscila De Oliveira, Cátia Batista, Alberto Arlindo, Yolanda Mucavele, Andrea Bellini e Sarah Istepanian – obrigado pela vossa dedicação, experiência e por transformarem os desafios em conquistas. Este foi verdadeiramente um trabalho de equipa e estou grato pela oportunidade de ter trabalhado ao lado de pessoas tão talentosas.

Um convite inesperado

Para além do projeto em si, um dos momentos mais inesperados deste percurso foi receber um convite para falar em direto na SIC Notícias. Tive a oportunidade de partilhar a minha experiência de testemunhar o desenrolar da complexa crise eleitoral e social de Moçambique. Falar sobre isto na televisão nacional reforçou o quão interligados podem estar os desafios económicos e a instabilidade política – e como é importante levar estas conversas a um público mais vasto.

Seguir em frente

Esta experiência deixou-me com mais do que apenas conhecimentos sobre dados e trabalho de campo – aprofundou a minha compreensão da resiliência, das oportunidades e dos desafios do desenvolvimento económico. Mostrou-me o poder da investigação que não se limita a analisar os problemas, mas que se envolve diretamente com eles. À medida que avanço, levo estas lições comigo, sabendo que o verdadeiro impacto acontece quando vamos para além da teoria e entramos nas realidades das pessoas que procuramos compreender.

João e amigos em Moçambique

João Carvalho
Mestrado em Economia, Nova School of Business and Economics